Bicentenário de Charles Darwin

“Eu estou quase convencido de que (completamente contrário à opinião de quando comecei) as espécies não são (e isso é tal como uma confissão de um assassinato) imutáveis.”
Charles Darwin – 11.01.1844

12 de fevereiro de 2009: o ano do bicentenário do nascimento de Charles Darwin. É, também, o ano em que seu livro mais conhecido (e polêmico), A Origem das Espécies, completa 150 anos de publicação, no dia 24 de novembro. Apesar de todo este tempo, Darwin e suas ideias ainda são conhecidas e também continuam sendo motivo de controvérsias. Muitas delas em relação ao pioneirismo de seu pensamento, outras relacionadas à velha discussão da ciência x religião e mais uma parcela que envolve a própria má interpretação e desconhecimento de seu legado.

De qualquer forma, é fato que esse livro gerou impactos na sociedade, talvez tão fortemente quanto a teoria heliocêntrica. E é, também, evidenciável que muito sobre evolução já era especulado antes dele, inclusive pelo seu avô, Erasmus Darwin, e também, bem antes, na própria Grécia Antiga; e que o próprio Wallace tinha percebido, de forma parecida, o mecanismo no qual Darwin passou mais de vinte anos a pensar.

Porém, Darwin foi o único que conseguiu sintetizar teoria com provas concretas. Estas que recolheu durante os anos em que viajou a bordo do navio Beagle. Tanto isso é fato que, quando Darwin novamente voltou à Inglaterra, em solo firme, já era uma personalidade reconhecida.

Um aspecto interessante acerca da teoria é que ela percebe a hereditariedade sem, ao menos, a genética de Mendel (1822-1844) ter surgido. Outro “detalhe” é que, baseado em seus registros escritos – que não são poucos – pode-se dizer que suas ideias abolicionistas (bastante inovadoras, para a época) ajudaram, também, no insight da existência de uma só origem para a vida, levantando uma noção de irmandade entre todos os seres vivos – principalmente pelos de mesma espécie, tornando a escravidão um absurdo biológico.

Outra razão que faz Darwin ser digno de créditos e homenagens que vem recebendo neste ano, em todo o mundo, se refere ao seu esforço, à sua genialidade, espírito investigativo, análise crítica e comparativa de dados – além de todo o cuidado que teve para que, antes de publicar, tivesse respostas e evidências que até então não tinha.

Inclusive, sabe-se que a publicação do livro poderia até ter ocorrido mais tarde, se o jovem Alfred Wallace não tivesse enviado a ele seus manuscritos, nestes registrados a ideia da seleção natural – fazendo com que, a conselho de amigos, as cartas destes dois fossem lidas na Sociedade Linneana, em 1858.

A descoberta da seleção natural e sexual e, com elas, os estudos pioneiros acerca do comportamento de indivíduos e a própria ecologia também merecem destaque.

Sobre as celebrações, a casa em que viveu e que, inclusive, escreveu sua teoria, foi reformada e está aberta para visitas, em uma exposição que apresenta, dentre todo o acervo disponível, a primeira edição do A Origem das Espécies, sua aliança de casamento e objetos coletados durante a viagem a bordo do Beagle.

No Brasil, comemorações ocorrem em diversos estados. Na Bahia, por exemplo, houve a plantação de árvores típicas da Mata Atlântica, uma homenagem à passagem do Beagle por Salvador. No Rio de Janeiro, o Instituto Sangari lançou um livro, intitulado “Charles Darwin, em um futuro não tão distante”. Em Portugal, uma exposição na Fundação Calouste Gulbenkian (uma das maiores exposições do mundo sobre o tema), além de diversos outros eventos, também marca essa data.

De forma impressionante, o Vaticano promoverá, em março, na Universidade Pontifícia Gregoriana, um congresso internacional para discutir acerca da evolução e intervenção divina na evolução das espécies, reunindo especialistas em ciência, antropologia cultural, filosofia e teologia, católicos e não católicos: “Evolução biológica: fatos e teorias”. Segundo um jesuíta e professor desta instituição, a discussão acerca de Darwin é mais ideológica do que científica e este acredita que fé e a teoria da evolução não são incompatíveis. O próprio Ratzinger (Bento XVI) e cientistas renomados, como Stephen Jay Gould (aquele que propôs os magistérios não interferentes), concordam.

Assim, podemos nos lembrar que a própria teoria de Darwin vem evoluindo no decorrer do tempo – nos recordando, ainda, que há uma gama de evolucionistas que discordam de certos aspectos de sua teoria, como o próprio Stephen Jay Gould. Entretanto, seus princípios básicos, até que se prove o contrário, são bem fundamentados: e basta nos lembramos das bactérias e da importância de se tomar os medicamentos na dose e horários certos, a fim de evitar a seleção artificial destas.

Para encerrar, uma frase do nosso homenageado:

“A impossibilidade de concebermos o universo tão grande e maravilhoso, como realmente o é, me parece o argumento principal para a existência de Deus.”
Charles Darwin – 02.04.1873

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